Já é uma certeza que na presente época, 2005/2006, o futebol profissional português vai conseguir manter, ao nível de classificação, um importante 6º lugar no ranking da UEFA. Apenas e mais uma vez, vamos ficar atrás da Espanha, Inglaterra, Itália, França e Alemanha. È um facto assinalável que a grande parte dos futebolistas que irão ser seleccionados para a fase final do Campeonato do Mundo, a realizar em Junho deste ano na Alemanha, jogam regularmente em campeonatos de outros países. Sabemos que uma quantidade significativa dos profissionais a actuar nas nossas duas principais ligas são estrangeiros, muitos deles provenientes de mercados de 2º e 3º níveis. Por outro lado sabemos ainda que alguns dos melhores treinadores portugueses tem estado, e pelos vistos continuarão a estar, a dirigir equipas estrangeiras designadamente e apenas a título de exemplo o caso de José Mourinho (considerado o melhor treinador do mundo na actualidade), Carlos Queirós, Artur Jorge, Fernando Santos e Manuel José – este tornou-se, inclusive, num verdadeiro homem das. arábias… Que o país futebolístico se encontra dotado, de Norte a Sul, de dez excelentes e modernos estádios de futebol. Que a maioria dos clubes que suportam financeiramente as estruturas afectas ao futebol profissional se encontram em situação bastante deficitárias, incluindo aqui os chamados três grandes. Que o enquadramento legal da actividade não é o mais adequado ás circunstâncias. Sabemos também que o nível e a qualidade da maioria dos dirigentes afectos às diversas estruturas responsáveis pela organização e acompanhamento das competições (incluindo as estruturas responsáveis pela disciplina e arbitragem), é em geral bastante baixo, sendo notórios os défices de transparência e isenção. E finalmente sabemos que o nível da intervenção e acompanhamento dedicado pela comunicação social especializada nem sempre é o mais adequado às necessidades e circunstâncias.
Assim, uma pergunta se coloca com pertinência, como é possível que o futebol profissional português tenha, mesmo assim, conseguido atingir as classificações actuais no ranking da UEFA?
Na nossa perspectiva e para o efeito existem algumas respostas adequadas: Em primeiro lugar, porque somos um país apaixonado pelo futebol, do Norte ao Sul, incluindo, naturalmente, os Açores e a Madeira; Em segundo lugar, porque evoluímos, sobretudo ao nível dos praticantes e técnicos, na cultura futebolística – modelo e princípios de jogo, bem como nos suportes físicos e mentais subjacentes; Em terceiro lugar, porque efectuámos, atempadamente, um trabalho de base, preparação de jovens em diversos escalões etários, com profundidade e assente em princípios e metodologias suportadas em critérios científicos e técnicos devidamente validados. Este trabalho foi efectuado sistematicamente, ao nível das selecções, em articulação com os clubes de origem dos jovens Em quarto lugar, porque criámos e desenvolvemos competências cientificas e técnicas especializadas no meio universitário que geraram gerações de técnicos com competências elevadas; Em quinto lugar, porque os potenciais atletas também evoluíram e passaram a possuir, à partida, de níveis materiais e de conhecimento mais facilitadores dos processos de aprendizagem; Em sexto lugar, porque beneficiámos com a nossa entrada na UE (credibilidade institucional e politica), e fundamentalmente com as alterações produzidas no mercado futebolístico através da chamada “lei Bosman”- alterações ao nível da circulação de atletas no espaço da União - e também com as relações “privilegiadas”, no domínio, também, da circulação de atletas, com os países pertencentes aos Palop’s (fundamentalmente com o Brasil).
É nesta diapasão e porque acreditamos – que se há actividade que é efémera ela é a de Dirigente – que se advinham, felizmente, Tempos Novos para o futebol português – Tempos de Mudança.
Pedro Vieira (pedro.vieira50@sapo.pt) |
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