sexta-feira, maio 04, 2007

Tesouros herdados do rival

Este texto publicado em O Jogo é o corolário lógico da qualidade formativa da Academia de Alcochete aliada à ausência duma escola de futebol com qualidade que se possa minimamente compara na região de Lisboa até há pouco tempo.

"Enquanto João Moutinho, Miguel Veloso e Bruno Pereirinha vão despontando nos seniores, Tiago Pinto, Martim Águas e Bruno Wilson evoluem nos escalões abaixo. O soar dos apelidos é denunciador…

Filho de peixe sabe nadar – nem que seja em “águas inimigas”. Chamem-lhe ironia do destino, desafio às tradições familiares imposto pelas condicionantes da vida, puro prazer de jogar futebol, ou busca de um sonho seja em que paragem for, em tempos que são outros, na Academia Sporting, em Alcochete, não há quem consiga esconder uma provocação matreira por ver florescer de verde e branco – em vários escalões de futebol, incluindo o principal – promessas cujos apelidos soavam, dantes, a pura rivalidade.

Simplificando: crescem e brilham no Sporting filhos (e até netos) de verdadeiras referências do Benfica. Vicissitudes várias, mas, principalmente, o trabalho de base há muito efectuado pelos leões ao nível do futebol de formação são a causa da mudança, que deixa pais e avós algures num estado natural de quem põe a felicidade acima dos gostos, fazendo a razão sobrepor-se à paixão.

Na equipa principal, João Moutinho, Miguel Veloso e Bruno Pereirinha são filhos de jogadores que nasceram ou, no caso do segundo, brilharam de águia ao peito, o que lhes marcou para sempre a carreira. Aliás, Moutinho e Veloso são já duas verdadeiras jóias da coroa do clube de Alvalade.

Na equipa júnior, Tiago Pinto é desde há muito acompanhado com particular interesse. O pai, João Vieira Pinto, passou de “carrasco” a herói dos leões, pelos quais assinou no Verão de 2000, deixando para trás o Benfica.

Nos iniciados B, Martim Águas vai dando início àquela que poderá ser a terceira geração de futebolistas da família, se o curso normal da vida e a sua própria evolução como desportista assim o permitirem. O pai, Rui, e o saudoso avô José fazem parte do imaginário futebolístico de muitos. E há ainda Bruno Wilson, que teve no progenitor Mário um camisola 10 de apurada técnica, posta ao serviço de Benfica, Académica e Atlético, entre outros emblemas históricos, mas é o seu avô Mário Wilson, o irrepetível “Velho Capitão”, que marcou o pontapé na bola lusitano como jogador… do Sporting e, principalmente, da Académica, e que fez da relação do Benfica, como técnico, uma história de amor, segundo o próprio. Hoje, as raízes encarnadas de todos dão lugar a frutos verdes."

Um pouco de humor negro - Um belo exemplo da teoria de Charles Darwin sobre a evolução das espécies.