Quando numa indústria, sistematicamente, uma parte significativa das suas empresas tem salários em atraso, o que é que se pode esperar do futuro dessas empresas e concomitantemente do êxito dessa mesma indústria?
Infelizmente a resposta é muito simples, muito pouco se pode esperar!
Os salários são, como alguém sabiamente dizia, SAGRADOS, e são-no, justamente, porque remuneram - valorizam de forma quantificada – uma acção / atitude tão nobre como o trabalho. Não respeitar ou valorizar de forma incorrecta a prestação de trabalho é, nas sociedades modernas, altamente censurável e, presumivelmente, passível de punição legal. O trabalho e a sua remuneração justa e equilibrada é um direito universal e por isso se encontra, esse direito, vertido nas constituições de muitos países – principalmente dos considerados mais desenvolvidos.
Vem isto a propósito da recente denúncia efectuada pelo presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol e relativa ao facto de existirem, actualmente, no futebol profissional português (bwin Liga e Liga de Honra) e em cerca de 50% dos actuais clubes (32), salários em atraso.
Diz ainda que nos clubes, não profissionais, a situação é ainda mais preocupante, porquanto deve atingir os 70%.
Uma parte significativa dos atletas que se encontram com salários em atraso são imigrantes. Na sua maioria vieram para o nosso país à procura de melhores condições de vida. Também na sua maioria são contratados por níveis salariais, bem abaixo, do que seria normal e justo auferirem.
Por outro lado, paradoxalmente, verifica-se também que estes trabalhadores imigrantes estão a ocupar os lugares, que em princípio deveriam ser preenchidos pelos atletas provenientes, essencialmente, da formação dos clubes profissionais.
Por outro lado, se olharmos para o mapa competitivo das duas principais ligas e se o relacionarmos com a realidade geográfica em que se encontram inseridas, constatamos:
1. - Que na principal liga, além da forte concentração litoral das equipas, não existe nenhuma representatividade abaixo do rio Tejo;
2. - Que na segunda liga se mantêm a mesma tendência litoral, e uma fraquíssima representatividade abaixo do rio Tejo.
Se a tudo isto associarmos ainda:
a) O facto de a maioria dos nossos futebolistas de elite se encontrar a jogar em outras ligas que não as nossas;
b) O facto de os nossos estádios, com excepção dos jogos que envolvem o Benfica, Sporting e FC Porto, estarem normalmente sem público assistente;
c) O facto ainda de a maioria dos clubes se encontrar em situação económica dificil, sobrevivendo, muitas das vezes, à custa dos subsídios locais e autárquicos “generosamente” oferecidos pelo poder instituído.
Podemos e devemos então concluir que a situação desta tão importante industria é grave e carece de intervenção rápida e urgente. (i) ao nível do saneamento económico e financeiro dos clubes; (ii) ao nível do mapa competitivo; (iii) ao nível do enquadramento regulador e disciplinar – balizado, fundamentalmente, na certificação dos clubes desportivos e dos seus dirigentes.
Nota: Um comentário rápido acerca de José Mourinho e dos acontecimentos, mais recentes, que o tem envolvido e dizer que para um grande leader – e ele é-o indiscutivelmente, porventura o maior – é fundamental saber viver e conviver com os resultados menos bons e extrair deles as lições mais convenientes. Chegar às meias-finais da principal competição do futebol europeu, ao nível de clubes, perdê-la nos penáltis e ficar em segundo lugar na principal liga inglesa, são só por si e em minha opinião, excelentes resultados.
Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)
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