António Puerta era um talento futebolístico, embora bastante jovem, já era um consagrado jogador do Sevilha. Era um médio centro esquerdino completo, tanto podia jogar atacando como defendendo pela esquerda. Descia e subia o corredor esquerdo, tantas e quantas as vezes necessárias. Era um grande profissional, solidário e uma boa pessoa. Pertencia a uma grande equipa de futebol amada pelos seus adeptos e respeitada pelos seus adversários. Puerta era considerado um símbolo dessa realidade (actual) ganhadora e conquistadora do Sevilha.
Mas o futebol, por vezes, não consegue esconder a dura realidade que ainda o envolve e que o torna triste e obscuro. E foi isso que aconteceu com Puerta num jogo em que o seu coração o traiu e o arrastou para os limbos da morte e para a antítese daquilo que deve ser o fim último do desporto - a alegria e o prazer do jogo praticado.
Como muito bem disse hoje Jorge Valdano no jornal A BOLA e passo a citar, “... o futebol elegeu Puerta para recordarmos que quando desafiamos os limites, às vezes os limites derrotam-nos, e que não há esconderijo possível para as feias verdades da vida. Foi a sua derradeira mensagem antes de deixar órfão o nosso querido futebol. ...”
Após este acontecimento terrível e trágico, importa – mais uma vez – lembrar que esta indústria espectacular e deslumbrante que se suporta, fundamentalmente, no futebol profissional, tem que criar os mecanismos necessários do ponto de vista organizacional, jurídico, financeiro e disciplinar que garantam o exercício harmonioso e saudável da sua actividade. Há limites que nunca, em circunstância alguma, poderão ser
transgredidos. É imperioso criar “limites de velocidade” no futebol.
Ontem disputou-se um grande jogo no Mónaco integrado na final da SUPERTAÇA EUROPEIA. As equipas presentes foram o AC Milan e o Sevilha. No intervalo do jogo a claque do Milan ofereceu uma faixa à claque do Sevilha que dizia, “Onore Puerta”. A páginas tantas os adeptos do Milan gritavam, “Puerta, Puerta” e os do Sevilha respondiam, “Milan, Milan”.
Nunca devemos esquecer que o futebol reúne na sua génese, entre outros, um princípio essencial que é o da solidariedade. Estão de parabéns as duas claques aludidas ao lembrar-nos este tão nobre princípio.
Carcavelos, 1 de Setembro de 2007
Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)
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