domingo, setembro 23, 2007

Jogo de pragmáticos


Vem isto a propósito da misteriosa, sigilosa e recente saída de José Mourinho do Chelsea.
Não restam dúvidas que houve acordo e que este foi monetariamente excepcional para o treinador – em circunstâncias idênticas o maior conseguido na história do futebol.
Sobre as razões do desenlace, sobre o que verdadeiramente esteve na sua origem, nada sabemos. Está tudo no segredo dos deuses, ou se quiserem, da nomenKlatura.
Mourinho nada disse e no final era um homem feliz e tranquilo, pudera, e sobretudo aliviado. Apenas levantou um pouco o véu quando disse que “saio de consciência tranquila”.
Da outra parte i/é de Abramovich (dono e patrão do clube), também nada de verdadeiramente esclarecedor.

Tradicionalmente os despedimentos dos treinadores nos clubes tiveram quase sempre a ver com os maus resultados conseguidos e sobretudo com as consequências negativas destes junto dos adeptos.
Aparentemente e no caso em apreço, os resultados não foram a razões fundamentais. No Chelsea, José Mourinho, ganhou tudo aquilo que havia para ganhar em Inglaterra e para mais, num curtíssimo espaço de tempo. Os adeptos, esses, adoravam-no.

O futebol no mundo global em que vivemos mudou bastante. Mudou, em primeiro lugar, porque se tornou numa importante indústria – em Portugal representa cerca de 1% do PIB – e depois porque mudaram os seus modelos organizacionais (SADs) de forma a adaptar-se às novas exigências do espectáculo mediático.
Como alguém disse recentemente as profundas mudanças operadas no futebol, tiveram como consequência o desaparecimento progressivo dos talentos individuais com capacidade de inovação, dando estes lugar ao futebol monitorizado e mecanizado.
Por outro lado a mobilidade das forças de trabalho, o marketing e as novas tecnologias deslocaram o jogo para fora das quatro linhas. Este tornou-se mais profissionalizado e passível de se transformar em conteúdo televisivo.
Neste contexto o futebol tem também tendência a ser dominado pelos pragmáticos.

Ora Roman Abramovich e José Mourinho são os dois um bom exemplo de pragmatismo no futebol.

(Nota: Curiosamente e significativamente o Primeiro Ministro de Inglaterra elogiou, já depois dos acontecimentos ocorridos, o contributo de José Mourinho no futebol inglês.)


Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)