quinta-feira, outubro 26, 2006

A violência é um dos refúgios dos cobardes...

Li hoje no comboio que utilizo diariamente para me deslocar da minha casa em Carcavelos para Lisboa, mais propriamente no diário o METRO – Portugal, edição gratuita de 26 – 10-06, ano 3, nº 406, uma noticia cujo titulo era “violência doméstica faz 900 vítimas” em que resumidamente dizia o seguinte:

-As vítimas (91%) são mulheres, ocorreram em Lisboa nos primeiros nove meses do corrente ano;

-Os casos mencionados são aqueles que foram registados na Divisão de Investigação Criminal do Comando Metropolitano de Lisboa – donde se pode presumir, e o comentário é meu, que a estatística se encontra desfasada em virtude dos casos, certamente, ocorridos e não denunciados;

-Dos casos registados, destacam-se os maus-tratos (412), e agressões físicas (373);

-A maioria das vítimas eram companheiras dos agressores (413), a mulher (330), os filhos (70), a mãe (66) e o pai (25);

-Os agressores foram constituídos arguidos, contando-se entre eles 53 mulheres;

-Das consequências ressalta 2% foram internados (18) e destes 9 com ferimentos graves;

-A maioria das agressões foi física (49%), físicas e psicológicas (38%) e as psicológicas (12%). Apenas um por cento foram realizadas com o recurso a armas;

-As agressões ocorreram 84% em casa, 7% na rua e 9% noutros locais;

Não existem dados relativamente às restantes zonas do país. No entanto e relativamente a 2005 a Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres divulgou que se registaram 18.193 casos.

Esta notícia pelos números divulgados (que estão longe de espelhar a realidade) e pela análise qualitativa efectuada é preocupante. Em Portugal, ainda hoje, se esconde muita a miséria, a nossa e a alheia.

É preocupante e assustador que as agressões registadas tenham ocorrido (84%) nas casas dos intervenientes – i/é de forma oculta e isolada e porventura, nalguns casos, “devidamente” regada.

Se associarmos ainda o facto de vivermos numa sociedade onde os níveis de instabilidade tendem a aumentar na escola e no emprego, compreendemos a necessidade, urgente, de fazermos todos um esforço colectivo de forma a reforçarmos o nosso quadro de referências ético e cívico.

Nesta perspectiva devemos tentar o seguinte:

Em primeiro lugar começar por condenar toda e qualquer forma de violência. Uma sociedade que utiliza a violência – em qualquer cenário, incluindo as ditas “dissuasoras” – é uma sociedade debilitada;

Em segundo lugar fazer esforços para explicarmos e entendermos, nas diversas escalas sociais e profissionais onde estamos inseridos, o que se passa ao nosso redor – sem tabus, sem medo, sem receio de parecermos ignorantes – nas nossas casas, nas escolas, nos empregos, nas colectividades e nos sítios onde convivemos,

Em terceiro lugar apelar à contestação (não gratuita) sem violência e rebelião, no sentido da defesa intransigente dos nossos direitos, partindo ainda do princípio de que quanto maior for a disseminação dos direitos sociais e políticos, mais consistente será o exercício da nossa cidadania;

Em quarto lugar ser tolerantes com a diferença, sobretudo no que diz respeito aos outros;

Em quinto lugar ser solidários e não miserabilistas;

Em sexto lugar tentar ser mais FELIZES nas pequenas coisas e prazeres.

Esta reflexão que resultou da leitura de um texto de um jornal matinal, ocorreu-me numa altura em que alguns pseudo dirigentes desportivos tentam por palavras violentas incendiar o ambiente de um simples jogo de futebol, esquecendo que a violência é um dos refúgios dos cobardes.


Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)