Ontem de manhã bem cedo como vem sendo habitual Fernando Correia aos microfones do Rádio Clube Português convidou-nos, competentemente, a reflectir sobre a palavra CRISE. Para o efeito deu o exemplo dos maus resultados e do péssimo ambiente que existe dentro e ao redor da velha instituição (classificada de interesse público) Sporting Clube de Portugal.
Considerandos,
O que vem então a ser Crise, como se manifesta (?), como se constrói (?), como se alimenta (?), como se trata (?). O que significa (?):
Consultando o dicionário ficamos a saber que pode significar, “alterações no curso de uma doença”; “momento perigoso e decisivo”; “falta de trabalho”; “dificuldades com o crescimento”; “situação dificultosa do governo ou da governação”; “descarga emotiva brusca”, etc..
Manifesta-se como crise de saúde, crise bélica, crise politica, crise financeira, crise social.
As crises podem ser individuais (pessoais / familiares), ou colectivas (institucionais e societárias), podem ser ainda estruturais e conjunturais.
Voltando ao velho SCP e analisando o seu momento actual podemos e devemos considerá-lo de crise. Simplesmente a sua crise é extremamente complexa, ela é estrutural, porquanto tem origem no complexo económico, jurídico e organizativo em que assenta o actual universo futebolístico português, e ao seu, próprio, modelo institucional e organizativo, atempadamente, escolhido. É conjuntural, porque tem origem em erros de gestão económica e desportiva praticados ao nível do curto prazo.
Dito por outras palavras os problemas que levaram á actual crise do clube derivam ou tiveram a sua origem em múltiplas situações externas e internas.
De forma ilustrativa convém referir a importante, oportuna e extensa, entrevista que José Eduardo Bettencourt (actual vice presidente do SCP) deu ao jornal “RECORD” no passado dia 12/01/08.
Saliento, sumariamente, alguns dos aspectos que considero mais relevantes:
As causas mais importantes da crise:
- A existência de uma enorme pressão externa sobre o clube, pressão essa, muitas vezes feita por pessoas com responsabilidades e experiência desportiva;
- A existência de sportinguistas que aproveitam sempre os momentos maus do clube para deitarem achas para a fogueira;
- A existência dos chamados “papagaios” que normalmente actuam de forma menos clara e sempre de dentro para fora;
- A existência de fortes constrangimentos ao nível da Câmara de Lisboa de forma a resolver, a contento, a questão relacionada com os terrenos circundantes ao estádio e propriedade do SCP;
- Um agravamento brutal das taxas de juro inerentes aos empréstimos contraídos junto da banca, subiram, num curto espaço de tempo, de 3% para 6%. Esta situação é relevante atendendo ao facto de o chamado “projecto Roquette” ter sido integralmente financiado por capitais alheios. O dinheiro que o clube tem gerado tem sido destinado, praticamente, para pagar juros e dívidas;
- A existência de orçamentos para o futebol muito abaixo dos seus principais concorrentes;
- Opções de última hora, ao nível do plantel, não foram felizes. A substituição de Caneira, Tello, Nani e Ricardo não foi fácil;
- A juventude, excessiva, do actual plantel, com a agravante de alguns serem provenientes de países diferentes e de línguas e culturas distintas;
- As lesões de Derlei e Pedro Silva, jogadores importantes que ficaram prematuramente impedidos de dar o seu experiente contributo à equipa;
Saídas (soluções):
- Unir os sportinguistas e acabar com as divisões;
- Repensar o modelo aprovado para o SCP e corrigir os aspectos mais relevantes;
- Para o efeito criar um grupo de reflexão e de acompanhamento, cuja composição será garantida por um conjunto de individualidades sportinguistas cujo mérito seja indiscutível. Este grupo será sempre acompanhado ao mais alto nível institucional;
- Endurecer e ser mais eficiente nas negociações com a banca;
- Reforçar a capacidade negocial junto da Câmara Municipal de Lisboa, Liga Profissional de Futebol e Federação Portuguesa de Futebol;
- Recuperar e animar todos os profissionais pertencentes à equipa de futebol (equipa técnica e jogadores);
- Animar e incentivar os jovens e os profissionais afectos à formação;
Notas finais,
a) Na última década o SCP obteve ao nível do futebol profissional excelentes resultados. Ganhou duas Ligas, duas taças de Portugal e duas Supertaças. Foi finalista (derrotado) da taça UEFA. Ganhou diversos títulos no futebol jovem. É considerado na Europa como um dos melhores clubes ao nível da formação do futebol jovem. Tem fornecido regularmente grandes talentos ao futebol nacional e internacional
b) O Sporting precisa de tempo e com ele fazer as reformas e as reestruturações necessárias.
c) O Sporting necessita de acabar, com urgência, com as aberrações e as embirrações.
Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)
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