quinta-feira, agosto 16, 2007

O futebol profissional e as suas finanças - 2ª Parte

3.2.- Análise específica época 2005/2006

A Deloitte – multinacional consultora de serviços, com escritórios instalados em Portugal – vem publicando anualmente um “Anuário” sobre as finanças do futebol profissional em Portugal. Recentemente publicou um estudo (8ª edição) referente à época 2005/2006.

O referido estudo é um documento, pela sua credibilidade, merecedor de ampla divulgação e discussão. É um excelente instrumento formativo – que para o efeito deveria ser acompanhado de sessões explicativas – fundamentalmente dirigidas aos principais agentes desportivos.

É um documento merecedor de estudo universitário competente e especializado.

Sobre o mesmo efectuámos algumas notas, em termos de diagnóstico, que passamos a descrever:

1ª Nota

As receitas geradas na época 2005/2006, no que diz respeito à indústria do futebol no mercado europeu atingiram os 12.600 milhões de € (o futebol inglês está no topo com cerca de 2.000 milhões de € – 16%).
Comparativamente o futebol português, naquele período, gerou apenas 239 milhões de €, o que representou naquele universo 1,9% e por outro lado é demonstrativo da nossa pequenez.

As receitas acima mencionadas foram controladas / geradas, no contexto competitivo europeu, maioritariamente pelas principais cinco Ligas – Inglesa, Italiana, Alemã, Espanhola e Francesa.

Por outro lado verifica-se ainda e com referência à situação portuguesas, que os três grandes (FC Porto, Sporting e Benfica) controlam entre si 62,7% das receitas geradas.

Já no que diz respeito aos custos envolvidos, em termos agregados, as equipas do 1º escalão atingiram os 274,8 milhões de €, também aqui os chamados três grandes encontram-se representados com 65,9%.
Por último, de referir que a principal rubrica de custos é a que tem a ver com os custos de pessoal, a qual ascendeu, em igual período a 132,8 milhões de €, os quais representaram 48% dos custos totais. Esta percentagem encontra-se muito acima daquilo que é tolerável e desejável.

2ª Nota

Na época em análise verificou-se um crescimento no desequilíbrio dos resultados de exploração e uma forte dependência do endividamento ao nível das instituições financeiras. Este, de origem bancária, foi obtido para cobrir os prejuízos que foram gerados pelos fortes investimentos efectuados nos plantéis e em centros de estágio.

Este complexo de situações obrigará a alterações futuras ao nível da chamada governação das sociedades e dos clubes.

3ª Nota

Nos últimos tempos tem-se observado a procura de modelos de negócios mais desenvolvidos e sustentáveis, assim como uma maior profissionalização dos agentes desportivos.

4ª Nota

Em termos, meramente desportivos, o ano em análise ficou marcado por resultados desportivos positivos no que se refere ao futebol português, designadamente:

- Participação e honroso 4º lugar conseguido no C. Mundo realizado na Alemanha;

- Organização em Portugal do EURO – sub 21;

- Participação honrosa do Benfica na Liga Milionária.

5ª Nota

As contas do FC. Porto foram elaboradas de acordo com as normas internacionais de contabilidade e também de acordo com as orientações e procedimentos adoptados no seio da EU.

Importante e fundamental salientar ainda, no que diz respeito às boas práticas seguidas, que o único clube português que apresentou as contas consolidadas foi o S.L.B..
6ª Nota

De certa forma a Liga Milionária tem vindo a contribuir através das receitas geradas, pela própria competição, para um certo equilíbrio financeiro dos clubes participantes. Evidência disso é o caso dos clubes portugueses i/é FC. Porto, Sporting e Benfica, cujas presenças anuais são fundamentais para garantir o prestígio desportivo e a estabilidade financeira necessária.

7ª Nota

A época 2005/2006 ficou marcada negativamente pelo facto de as 18 equipas, 7 não gerarem cash flows positivos.
Neste caso o Benfica foi a equipa que obteve melhores resultados.
Os três grandes, também aqui, representaram 73% dos cash flows gerados.

8ª Nota

O custo médio por jogador (18 equipas) foi de 209 mil euros.

Mais especificamente os três grandes apresentaram, em média, por jogador 565 mil euros. Os chamados pequenos 97 mil euros.

9ª Nota

O número total de associados das 18 equipas participantes era de 533 mil, o que corresponde a 5% da população portuguesa. O Benfica aparece destacado em 1º lugar com 152 mil, o FC. Porto em 2º lugar com 99 mil e o Sporting em 3º com 86 mil associados.

10ª Nota

Ao nível das assistências o número de bilhetes vendidos foi de cerca de 3 milhões. Face ao ano anterior verificou-se uma ligeira diminuição.

A taxa de ocupação dos estádios foi de 43%

11ª Nota

Ao nível da formação o Sporting aparece destacado em 1º lugar com um investimento de 1,3 milhões de euros. O Benfica (2º) com aproximadamente 1 milhão e o FC. Porto (3º) com 645 mil euros.
(Continua)