sexta-feira, agosto 10, 2007

O futebol profissional e as suas finanças - 1ª Parte


1. Ponto prévio

Aos meus amigos e colegas do alvalaxia.blogspot.com e aos leitores, a todos, quero deixar aqui um abraço e votos de uma nova época – 2007/2008 – repleta de êxitos desportivos e já agora, “bloguistas”.

Ao longo das últimas duas épocas tive o prazer de escrever aqui, no ALVALAXIA, cerca de 60 artigos e com isso tive a oportunidade e o privilégio de reflectir sobre a multiplicidade de assuntos e temáticas que envolvem o desporto e o futebol em particular.
Ao passar a vista por eles verifiquei e perdoem-me a imodéstia, que a complexidade e o grau de exigência que hoje é pedido aos envolvidos é enorme. Neste particular direi que esta exigência/competência além de um direito é uma obrigação em termos de cidadania.
Daí também a importância dos instrumentos operativos – onde estão necessariamente incluídos os BLOGUES – que tornam dinâmica, eficaz e generalizada as competências associadas à sociedade da informação e do conhecimento.

Em consequência, parece-me, justo, incluir como tema obrigatório no ALVALAXIA para a nova época o das finanças no desporto e no futebol em particular.

Falar em finanças no desporto e no futebol em Portugal é estudarmos a realidade societária que lhe dá corpo e que são os clubes de futebol e de estes, em particular, os profissionais.

Nesta perspectiva vamos iniciar o desafio abordando as finanças do futebol profissional tendo, nas circunstâncias, como referência o documento recentemente editado pela Deloitte e relativo à Época 2005/2006.


2. Questão geral

A maioria dos clubes profissionais em Portugal assenta a sua actividade e gestão nas chamadas SAD (Sociedades Anónimas Desportivas). Para o efeito a legislação portuguesa prevê, para estas sociedades, que o capital accionista seja constituído por duas categorias de acções, grupos “A” e “B”. As acções pertencentes ao grupo “A” concedem direitos especiais (privilégios) aos seus detentores designadamente os de veto em diversas matérias preponderantes – como a de aumentos de capital, alteração de estatutos, fusão ou cisão da sociedade – as quais, objectivamente, impedem quaisquer tomada de posição importante sem a sua anuência.
A lei obriga ainda e com isso fecha o circuito de controlo, que as acções do grupo “A” numa percentagem não inferior a 15% nem superior a 40% terão de estar na posse do respectivo clube.

Ora os clubes e os seus órgãos sociais tem, nas circunstâncias, um poder de controlo e decisão determinantes. Por outro lado, e em Portugal isso é evidente, os presidentes dos clubes tem um poder enorme nas decisões dos clubes aos mais diversos níveis.

Por outro lado, verificou-se que até agora em Portugal os clubes que estabeleceram acordos com empresas externas para efeitos de gestão e fundamentalmente de saneamento económico e financeiro, a totalidade deles foram despromovidos e encontram-se em situação mais grave.

Porventura e à semelhança de outros países da EU como a Espanha, França e Itália, entre outros, em Portugal o futebol continua a não ser considerado como um negócio puro e duro. O futebol é um facto,
continua a alimentar-se do entusiasmo e da paixão dos adeptos.

Se olharmos para a península ibérica e para as duas principais ligas profissionais de futebol, verificamos que em Portugal, apenas, três SAD se encontram activamente no mercado bolsista, em Espanha nem uma.

Apenas os clubes ingleses abraçaram o mercado bolsista de forma aberta e frontal e sem quaisquer restrições. Estão integralmente no negócio puro, duro e simples. Por isso a Liga Inglesa é uma excepção. Por isso também a Liga Inglesa é, porventura hoje em dia, a mais rentável.
Para os adeptos ingleses tornou-se, relativamente, indiferente que o clube do seu coração seja controlado, parcialmente ou na totalidade, por um grupo financeiro russo, escandinavo ou chinês. O importante é que o clube ganhe.
Esta postura britânica é interessante e porventura tem, hoje em dia, muito a ver com o modelo político adoptado.

De facto, uns defendem um modelo em que compete ao Estado ser mais intervencionista (Estado - providência) estando neste caso a Espanha e Portugal. Outros defendem e é ocaso de a Inglaterra uma postura mais liberal em que deixa ao critério e julgamento do mercado o desenvolvimento das coisas.


3. As finanças dos clubes profissionais (época -2005/2006)

3.1. Breve resenha histórica

De uma forma grosseira podemos dizer que até ao inicio da última década do século passado as principais receitas obtidas pelos clubes
foram numa 1ª fase, as seguintes:

- Totobola;
- Quotizações (sócios);
- Bilheteiras.

Os correspondentes custos com o pessoal, incluindo os dos atletas, foram baixos, haviam limitações à circulação de atletas.


Posteriormente e numa 2ª fase aquelas receitas foram acumuladas com as seguintes:

- Televisivas;
- Subsídios;

Sem limitações à circulação de jogadores e com os concomitantes acréscimos nos custos salariais dos atletas, recorreu-se a mercados mais acessíveis e ao endividamento bancário.

Recentemente numa 3ªfase e em consequência da situação caótica em que se encontravam as finanças dos clubes e as suas situações patrimoniais, tentou-se solucionar o problema recorrendo ao aumento das receitas por via da solução SAD’s e dos putativos encaixes financeiros provenientes do mercado accionista.

Em recurso e como contenção de custos recorreu-se a mercados futebolísticos, ainda, mais baratos e finalmente ao inevitável endividamento bancário.
(Continua)