segunda-feira, abril 09, 2007

Ainda no rescaldo do Benfica - FC.Porto (23ª jornada)


Acerca das falhas de organização no Estádio da Luz, as quais permitiram ou pelo menos não evitaram as situações de violência que envolveram a claque do FC. Porto, o presidente do SLB numa clara “fuga para a frente”retira qualquer responsabilidade ao clube da luz.
Diz Luís Felipe Vieira (LFV) que a culpa é da PSP e da claque do FCP.
Por outro lado a Comissária da PSP, responsável (aparentemente) pela garantia da segurança dentro e fora do estádio, diz que a culpa pelos acontecimentos que provocaram três feridos é do Benfica por ter instalado, sem seu conhecimento e autorização, a claque dos dragões num sítio impróprio (terceiro anel - bem por cima dos adeptos rivais).
O presidente do SLB reage chamando incompetente à Comissária da PSP e remetendo de novo as responsabilidades para esta e também para os membros da claque os quais apelida de “vândalos” (sic).
Ao mesmo tempo e no seu estilo próprio – quer posso e mando – ameaça não enviar os bilhetes (previsto nos regulamentos) ao Sporting para o próximo derbi Lisboeta.

Paralelamente e em simultâneo o Ministério da Administração Interna (MAI) mandou – e bem -instaurar um inquérito sobre os acontecimentos.

A pergunta, desde logo, que se pode fazer é a de saber qual a lógica das ameaças de LFV. O que pretende verdadeiramente com elas. Será que pretende alguma coisa de palpável, creio sinceramente que não.
O que faz então excitar tanto LFV? A resposta, creio, só o próprio poderá dar, contudo parece-me que as reacções são, no mínimo, preocupantes ou se quiserem ruidosas.

Contudo julgo ser importante fazer um esforço para compreender os acontecimentos desagradáveis ocorridos. Para o efeito devemos ter em atenção que os conflitos ocorreram e foram gerados debaixo de um ambiente tenso (futebolisticamente pensando) o qual por sua vez se encontra submerso num ambiente generalizado de desorganização em que se encontra mergulhado há muito tempo o futebol em Portugal.

Neste contexto e tendo em atenção o fenómeno associado à violência nos estádios, passo a descrever um conjunto de notas que nos poderão auxiliar a encontrar a explicação para as causas das coisas, a saber:

1ª Nota – Curiosamente é positiva e para assinalar que de uma forma geral os casos de violência têm vindo, nos anos recentes, a diminuir nos estádios portugueses. Isto naturalmente porque aumentou significativamente a qualidade de segurança dos estádios e porque as autoridades policiais sofisticaram e especializaram os seus procedimentos de actuação;

2ª Nota
– O actual modelo de policiamento dos recintos desportivos prevê a figura do coordenador de segurança, como elemento central do sistema. Embora previsto na lei está praticamente há três anos por regulamentar pelos órgãos legislativos com competência para o efeito.
Esta é eventualmente umas das razões para compreender o desentendimento entre LFV e a Comissária da PSP;

3ª Nota – Ao Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto (CNCVD) órgão previsto na Lei nº 16/2004, compete prevenir e ajudar a combater o fenómeno. Praticamente só recentemente em Março efectuou uma reunião, a última tinha sido em FEV. / 2006. Como se podem fazer balanços, como se podem definir estratégias e linhas de actuação articuladas, como se podem avaliar politicas?

4ª Nota – A Lei prevê que as claques de futebol se encontrem registadas no CNCVD. Até a presente data apenas a “Torcida Verde” ligada ao SCP se encontrava registada. Prevê-se igualmente que as claques forneçam regular e de forma organizada elementos identificadores dos seus elementos. As claques que estiveram na Luz encontravam-se, para todos os efeitos, em situação ilegal;

5ª Nota – A lei prevê ainda que os clubes que apoiem claques não legalizadas fiquem proibidos de organizar eventos desportivos. Se a lei fosse cumprida não haveria campeonatos de futebol em Portugal;

6ª Nota – Os clubes utilizam muitas vezes as claques e isso é evidente, como “tropas de choque” ao serviço dos dirigentes;

7ª Nota – O policiamento tem um preço e as Empresas de Segurança (previstas no sistema) que apresentam assistentes (stewards) com mais qualificações são mais caras. Alguém avalia, aprova e responsabiliza-se pelas contratações, quem CERTIFICA as entidades privadas de segurança?

8ª Nota – A clara e total ausência de intervenção sobre o assunto da Liga de Clubes e da Federação Portuguesa de Futebol. Será que estas Instituições não deveriam intervir com inteligência no espaço e tempo oportunos, justamente, para defenderem a modalidade, os clubes e os adeptos…e já agora a indústria.

Porque a atitude nunca poderá ser a da “fuga para a frente”, considero que para já e neste contexto deve-se aguardar o resultado do inquérito já mandado instaurar pelo MAI, responsabilizar: em primeiro lugar a claque do FC Porto – nada nem circunstância alguma pode justificar atitudes de violência no desporto; em segundo lugar o SLB porque em última análise é o clube responsável pela organização do evento e esta situação agrava-se, do ponto de vista da exigência, quando a desorganização institucional é generalizada; em terceiro lugar as forças de segurança – são efectivamente os principais responsáveis pela manutenção da ordem; em quarto lugar a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga de Clubes e por fim o Estado a quem compete legislar e regulamentar convenientemente as actividades.

Porque é importante apresentar contributos para discussão, passo a apresentar alguns que me parecem pertinentes e se essa for a vontade dos próprios, de fácil implementação:


a) Em vez de extinguir o CNCVD é preferível, à semelhança de Espanha, reforçar o seu papel e intervenção como órgão programador e coordenador de actividades anti - violência;

b) Criar rapidamente o quadro legislativo e regulamentar adequado;

c) Proceder à legalização e monitorização das claques, definir muito claramente as formas de financiamento, níveis de independência e transparência;

d) Os clubes devem, assumidamente e com transparência pública, concertar politicas conjuntas com as respectivas claques e “filtrá-las” através da Liga de Clubes;

e) Garantir para o futuro que as penalizações sejam exemplares, duras e de rápida aplicação;

f) Garantir a formação e certificação adequadas das entidades privadas de segurança e dos respectivos agentes (stewards).


Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)