sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A preocupante ausência de público nos estádios

No âmbito do programa radiofónico difundido no, rejuvenescido, RCP – Lugar Cativo o qual é brilhantemente conduzido por Fernando Correia, tive a oportunidade e o prazer de colaborar na discussão do tema, agora e aqui, citado. Para o efeito, preparei alguns dados os quais passo aqui neste sítio a divulgar:

1 Dados estatísticos:

1.1 - No fim-de-semana último estiveram presentes nos 8 estádios onde se disputaram os jogos referentes á 16ª jornada da principal liga portuguesa cerca de 27.000 espectadores – em média 3.375 pessoas por estádio.
O jogo com maior assistência foi o Belenenses / Benfica com 8.000 pessoas.
O jogo com menor assistência foi o Estrela da Amadora / Naval com 1.000 espectadores;

1.2 – Segundo o estudo da “Deloit” referente à época de 2003/2004, nos jogos nacionais, cada clube vendeu, em média, cerca de 162 mil ingressos, ou seja 9.568 bilhetes por jogo.
Associado a esta estatística está a informação de que, em termos de receitas, 70% destas foram geradas pelo FC Porto, Sporting e Benfica.
Mais recentemente foi efectuado um estudo onde se apresenta a evolução das assistências nos Estádios do Euro – 2004 e relativas às 12ª jornada da época 2006/2007 da Liga Principal de Clubes.
Da leitura deste estudo destaca-se a baixa ocupação dos mesmos – no entanto verifica-se ainda que são os três grandes que tem as taxas maiores de ocupação, designadamente o Benfica com 52%, o Sporting com 69% e finalmente o FC Porto com 74%;

1.3 – Segundo a FPF, os jogos da principal Liga Portuguesa sofreram a partir de 1990 uma forte diminuição das assistências médias. Até 1990 a média era de 20.000 espectadores por jogo – um decréscimo ocorrido bem superior a 50%;

1.4 – Relativamente às principais Ligas Europeias, temporada de 2005/2006 (fonte Record- 25-1-2006), apresenta-se informação que permite comparar as assistências médias e os preços médios dos bilhetes:

- Liga Alemã – 37.314 espectadores – preço 18.71€;
- Liga Inglesa – 33.900 espectadores – preço 44€;
- Liga Espanhola – 27.800 espectadores – preço 25€;
- Liga Portuguesa 10.000 espectadores – preço 20€;

1.5 – Se compararmos os salários médios praticados em vários países europeus em 2002 (dados do eurostat), com os portugueses naquele período, destaca-se que:

- Alemanha tem um salário médio superior em 281%;
- Inglaterra “ “ “ “ 240%;
- Espanha “ “ “ “ 167%;

1.6 – Os jornais que mais vendem em Portugal, de forma destacada, são os desportivos. Neles, 90% das notícias de segunda-feira a domingo, tem a ver com o futebol;

1.7 – Em 2002 os 6 programas mais vistos na Televisão Portuguesa foram o futebol.
Em cada 10 notícias difundidas nos telejornais, uma é sobre futebol.


2 – Dados sociológicos e culturais:

2.1 – Existe uma entidade, normalmente, denominada “Futebol Português”. Esta entidade tem do ponto de vista cultural uma equivalência ao “teatro português”, ao “cinema português”;

2.2 – O futebol em Portugal tem uma dimensão simbólica e está profundamente incluída no “Processo Identitário”. Exemplos disso é a profusão com que se canta e escuta o hino nacional nos campos de futebol.
É permanentemente referido como algo representativo da qualidade e do valor de Portugal;

2.3 – A chamada identidade nacional está profundamente concentrada no futebol – situação que foi possível verificar e constatar aquando da realização dos últimos campeonatos da Europa (2004) e do Mundo (2006);

2.4 – O futebol provoca reacções emocionais e de empenhamento visíveis, porque constantes, nos portugueses;

2.5.- No vocabulário português é frequente encontrar expressões provenientes e originárias do futebol, designadamente: “ver um cartão
amarelo/vermelho”; “jogar à defesa”;”chutar a bola para canto”, “suar a camisola”; “dar o litro”; “chicotada psicológica”; “entrar a matar”, “jogar de olhos fechados”, “fazer marcação em cima”; “levar um nó cego”; “chutar ao lado”, entre muitas outras.


3 – Dados políticos:

3.1 – O futebol e as suas organizações são normalmente respeitadas e sobretudo, temidas por algum poder político. Daí o cuidado com que certos políticos tratam os assuntos relacionados com o futebol. Daí algumas expressões públicas tais como, não se metam com o futebol….;

3.2 – Nos últimos anos tem vindo a intensificar-se as situações de corrupção que envolvem directamente os dirigentes ligados ao futebol, empresas e poder politico (sobretudo autárquico).

4 – Dados económicos:

4.1. O futebol é hoje uma importante e afirmada indústria à escala nacional e também europeia. Contribui directa e indirectamente e de forma significativa para os respectivos PIB’s.

5 – Grande questão paradoxal suscitada:

Sendo o futebol tão desejado e apaixonadamente vivido pelos portugueses, a sua maioria, como se compreende que os Estádios tenham cada vez menos espectadores. Como se compreende ou explica este fenómeno paradoxal?

6 – Seis razões explicativas inseridas no processo de globalização de que o futebol faz parte:

1ª razão:
O económico – o elevado preço dos bilhetes;

2ª razão:
O
futebol televisionado - A mediatização em detrimento do espectáculo ao vivo. Procuram-se conquistar audiências em vez de espectadores.

3ª razão:
A qualidade do jogoa falta de jogo bonito;

4ª razão:
A concentração de poderes - A hegemonia social e desportiva dos 3 grandes;

5ª razão:

A má gestão. O mau dirigismo. O problema da organização do futebol;

6ª razão:

A mudança cultural o 25 de Abril e a adesão à UE;



Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com)