Escrevo este post a propósito das declarações de Scolari sobre a participação de Cristiano Ronaldo na Selecção Nacional e sobre a velha dicotomia Clubes vs Selecções.
As declarações de Scolari
A conferência de imprensa acabou, no entanto, por ficar marcada quando Scolari foi questionado sobre Cristiano Ronaldo. O Manchester United pediu para que o jogador fosse poupado e Carlos Queirós até esteve em Portugal...«Observámos Cristiano Ronaldo no treino e conversámos com Carlos Queirós, que às vezes também tem de fazer o seu papel para os adeptos do Manchester United. Falando connosco, diz que tudo estava bem, que podemos utilizar à vontade. Mas também veio ver o jogo e, mais uma vez, trabalhar a sua candidatura para a Selecção no futuro. Será sempre bem-vindo», atirou.
A ser isto o que aconteceu parece-me que Scolari devia ter sido assertivo e não sarcástico. O seu sarcasmo acabou por ofender o sensível humor de Queiroz. Mesmo que o adjunto de Fergusson queira retomar o lugar que já ocupou, a diplomacia do técnico brasileiro teria resolvido a situação, ficando Queiroz entre a espada e a parede.
Há aqui também que ter em conta a fama de Scolari não "dar ouvidos" aos treinadores dos seus jogadores. Espero que esta posição não se tenha extremado.
Tendo sido desde que o conheço uma pessoa firme e educada, não havia agora necessidade de beliscar, quer se goste o não goste dele (Queiroz), o prestígio e a palavra de Carlos Queiroz. Espero que daqui para a frente a situação não se repita nem haja uma escalada verbal. De parte a parte.
As declarações de Queiroz:
Tal como esperado, Carlos Queirós não deixou Luiz Felipe Scolari sem resposta. O seleccionador de Portugal acusou o «adjunto» do Manchester United de ter dois discursos e, mais grave, de ter assistido ao jogo com o Cazaquistão para apresentar a candidatura ao posto do técnico brasileiro.
«Pessoalmente não tenho razões de queixa contra Scolari ou contra a própria Selecção, mas este baixou o nível em conferência de imprensa. Ainda por cima com um discurso ridículo, sem qualquer senso. Scolari está a ver fantasmas onde não existem», começou por comentar Carlos Queirós, em entrevista à Renascença.«Se a minha presença em Portugal é uma candidatura, pergunto se a presença dele no estádio do Benfica, do FC Porto ou do Sporting também é uma candidatura da parte dele», prosseguiu o técnico português, debruçando-se ainda sobre a utilização de Cristiano Ronaldo na Selecção portuguesa.«Scolari comporta-se como aquelas pessoas a quem emprestamos o carro cheio de gasolina, utilizam-no durante uma semana, batem e abandonam-no numa rua qualquer sem gasolina. E nem têm a delicadeza de telefonar a dizer onde deixaram o carro», disse, referindo que o seleccionador de Portugal «deve ficar incomodado por ter medo de repartir, nos dez dias que está com ele, o sucesso e a glória com aqueles que trabalham 300 dias por ano com esses mesmos jogadores».«Quando vou a Portugal em trabalho, estou a representar o Manchester United, clube que tem milhões de adeptos e que paga os ordenados aos jogadores que representam as selecções, entre os quais Cristiano Ronaldo», lembrou, deixando a acusação de que Scolari é o único de 14 seleccionadores que não comunica com o clube inglês sobre jogadores.«O Manchester United relaciona-se com cerca de 14 selecções em todo o Mundo. E se há um seleccionador que não comunica com o Manchester United é precisamente Luiz Felipe Scolari, que utilizou Cristiano Ronaldo todo o tempo contra a Polónia e, depois, este não pôde jogar pelo seu clube durante duas partidas. Mas Scolari nem sequer teve a delicadeza de telefonar ao clube», finalizou.
Carlos Queiroz pode ter dito e feito outra coisa diferente do que disse. Parece-me uma pessoa séria, tal como Scolari. Esta resposta foi a mais adequada para quem se referiu a ele de modo sarcástico.
Já Alex Ferguson podia ter dito o que disse - a Scolari e em privado. Se calhar ele teria-lhe dado ouvidos.
O que está aqui em causa é que os clubes às vezes se esquecem que os Europeus e os Mundiais, já para não falar nas Qualificações valorizam imenso os seus jogadores. Têm depois grandes lucros com transferências.
Também é verdade que as lesões em jogos das Selecções lhes trazem dores de cabeça. Mas as dos seus clubes não trazem? Para as das Selecções devem existir seguros que compensem os respectivos clubes. Caso existam, já não há direito a pedir, tal como Alex Ferguson fez, que fulano ou cicrano não joguem.
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