segunda-feira, fevereiro 20, 2006

III - O MODELO COMPETITIVO

Se a lógica competitiva da maioria dos nossos campeonatos de futebol, nos diversos escalões e categorias, tivesse relacionamento directo com a população do país, com o número de adeptos, com o número de espectadores efectivos nos estágios, com as infra - estruturas existentes, com o fosso económico e social existente entre o interior e o litoral e finalmente com as potencialidades económicas reais do país – sobretudo estas – provavelmente teríamos um mapa futebolístico nacional distinto.

Como mais distinto seria ainda se tivéssemos objectivos estratégicos, convenientemente suportados e sustentados em politicas desportivas adequadas e concomitantes.

Ao invés temos uma proliferação e um excesso de competições, apanágio, de um país futebolisticamente distinto, só explicável pela lógica dos interesses instalados – e pelo facto de sermos, decididamente, um povo ardentemente apaixonado pelo futebol e portanto mais facilmente manipuláveis.

O caos instalado, assim devemos classificar a situação, resulta e justifica o nível, bastante baixo, dos dirigentes afectos aos clubes e aos organismos responsáveis pela regulação e controlo do sistema.

A classe dirigente, na maioria dos casos, é constituída por pessoas onde é manifesta a sua falta de preparação para o exercício das funções exigidas. Por outro lado, evidenciam à saciedade, falta de imparcialidade e isenção – normalmente tem comportamentos associados a práticas corruptas. Os casos exemplificadores abundam e são do conhecimento da opinião pública.

Dizíamos quando abordámos o II - FINANCIAMENTO DOS CLUBES, que era essencial clarificar este para definir de forma justa e equilibrada o modelo competitivo, para evitar que se continuasse numa fuga “para a Frente” sem qualquer lógica e suporte. É mais do que evidente que em Portugal não podemos ter Ligas (1ª e 2ª) praticamente com o mesmo número de competidores como Espanha, Itália, França e Inglaterra. Ao nível de outros campeonatos e de ligas consideradas inferiores as situações são ainda mais preocupantes – casos das 2ª, 3ª Divisões e Distritais.

O país futebolístico, ou seja o SISTEMA, não gera receitas minimamente suficientes para alimentar estas competições - esta é a verdade.

Sendo assim uma questão pertinente se coloca - como sobrevivem então?

Fundamentalmente através dos subsídios directos e indirectos recebidos do Estado, pelos financiamentos de terceiros (empréstimos bancários e pessoais) e finalmente pelo não cumprimento das suas obrigações patrimoniais (salários e ordenados, fornecedores e impostos).

A acrescentar a tudo isto temos um sistema de arbitragem, que por falta, também, de imparcialidade e de isenção e sobretudo de Autonomia e Capacidade Financeira vai fazendo das tripas coração (em alguns casos) e noutros vai servindo o SISTEMA.

Por último e antes de apresentar algumas sugestões – permitam-me – gostaria de salientar aqui, a ausência total de estratégia de uma verdadeira politica pública desportiva em cooperação com os países de Língua Portuguesa – alguém já pensou na importância estratégica e nas inerentes potencialidades de retorno, com a organização futura de uma competição futebolística entre os chamados PALOP.

Urge então realizar:

a) O levantamento exaustivo da situação competitiva e de todos os aspectos relacionados com os suportes ao seu funcionamento (de topo e base);

b) Analisar, em pormenor, a organização e o financiamento de outras Ligas – designadamente e como exemplo possível a Espanhola e a Holandesa – e trazer para o nosso universo as questões positivas e eventualmente exequíveis;

c) Definir, com algum pormenor, os grandes objectivos competitivos, conceitos e princípios fundamentais almejados;

d) Definir os modelos de financiamento e funcionamento competitivo;

e) Criar um ante – projecto legislativo enquadrador;

f) Criar os mecanismos de divulgação, formação e implementação adequados às circunstâncias.

Pedro Vieira (pedro.vieira50@sapo.pt)