terça-feira, fevereiro 07, 2006

II - FINANCIAMENTO DOS CLUBES

Para nos situarmos, na perspectiva do raciocínio desenvolvido em I - O DOMÍNIO COMPETITIVO, convém dizer que nesta curta análise apenas abordaremos, de forma sintética e sumária, a questão financeira dos Clubes afectos às chamadas principais Ligas Profissionais – i/é Liga Betandwin e Liga de Honra:

1. Ao todo temos 36 equipas distribuídas em quantidades iguais pelas duas competições. Todas elas disputam um campeonato anual organizado em 34 jornadas, tem a possibilidade de realizar ainda alguns jogos na chamada Taça de Portugal e finalmente, as melhores de todas, podem participar nas competições internacionais.

2. Cada equipa técnica pode, em média, ser constituída por 25 atletas (total dos clubes – 900 jogadores), 1 técnico principal, 2 adjuntos, 1 preparador físico, 1 massagista, 1 fisioterapeuta e 1 roupeiro (total dos clubes – 1152 pessoas envolvidas).

3. A acrescentar a tudo isto há um conjunto de infra-estruturas e de outros meios humanos necessárias à prática competitiva, designadamente os que permitem o treino dos atletas, a sua manutenção e recuperação física, os gabinetes clínicos, espaços logísticos e finalmente os recintos destinados á competição desportiva.

Estes são sumariamente e de grosso modo os principais meios necessários e são também aqueles que justificam mais custos operacionais como suporte. Há também um conjunto de outras actividades como a formação e a prospecção desportiva que quando desenvolvidas também tem significado em termos de custos.

Para fazer face a estes custos os clubes basicamente e principalmente recorrem às seguintes receitas:

• Quotizações de sócios;
• Televisivas;
• Venda de Publicidade;
• Venda de Produtos (camisolas, cachecóis, botas e outros equipamentos desportivos personalizados);
• Patrocínios;
• Mais valias – resultantes das alienações de “Passes de Atletas”;
• Desportivas (vendas de bilhetes e participação em competições).

O volume destas receitas está directamente relacionado com a grandeza e capacidade organizacional dos respectivos clubes. No caso português a fatia principal é dividida, em primeiro lugar e por ordem de grandeza, pelo Porto, Benfica e Sporting, e em segundo lugar pelo Boavista, Braga e V. de Guimarães. A diferença entre o primeiro e o segundo grupo é abismal.

Os restantes clubes estão bastante distantes destes seis o que por si só é bem exemplificativo da debilidade e dependência da maioria dos clubes referidos (*).

Se os três grandes tem receitas manifestamente insuficientes imagine-se o que não se passará com os restantes. E é aqui que entram as outras formas de financiamento – designadamente os empréstimos bancários, os subsídios estatais a alienação de patrimónios imobiliários.

O cenário geral é francamente preocupante e urge rapidamente sanear financeiramente os clubes – se tal ainda for, para a maioria não será, tecnicamente possível. As “SAD” não foram solução, na maioria dos casos acabaram por se tornar parte agravante dos problemas, o que nos coloca na obrigação de enfrentar decididamente e sem subterfúgios, a questão do financiamento e dos respectivos modelos – sendo aqui que entra o papel fundamental do Estado enquanto autoridade legisladora (e acrescente-se, preferencialmente, não financiador).

Uma certeza se coloca – sem um modelo de financiamento justo, equitativo e proporcionalmente solidário, não haverá, no futuro, um modelo competitivo transparente e eficiente.

Pedro Vieira (pedro.vieira50@sapo.pt)

* - Na prática é no modelo alternativo encontrado que se encontra “instalado” o chamado “SISTEMA”