Chegámos ao fim deste Campeonato do Mundo do Futebol, edição 18º, realizado e bem no centro da Europa Central, na Alemanha, República considerada a locomotiva económica da EU. Importa, portanto, fazer um balanço final, a saber: -Sublinhar a forma organizada, eficiente e competente como a Alemanha, em articulação com a FIFA, preparou e desenvolveu este Mundial. Foi um importante, quiçá o mais importante, evento dos últimos tempos levado a efeito na Alemanha. A permanentemente disponibilidade manifestada pelas mais altas individualidades alemãs na participação e acompanhamento do acontecimento, só vem evidenciar o grau elevado de importância que o mesmo teve para o país anfitrião e simultaneamente chamar a atenção para o relevo social, económico e cultural do futebol de alta competição e das importantes industrias a ele associadas na actualidade; -Os 64 jogos que envolveram as 32 selecções presentes, foram realizados em 12 estádios (cinco novos e sete reconstruídos), cujos custos finais ascenderam a 1.410,40 M.€. Todos eles foram equipados com as mais modernas tecnologias e dois deles possuem tectos amovíveis – esta uma das novidades deste Mundial - que permitem, quando julgado conveniente, cerrar completamente os respectivos espaços. Os 12 estádios encontram-se distribuídos pelas principais cidades alemãs e no seu conjunto acolhem, com níveis muito elevados de conforto e segurança, cerca de 633.000 pessoas; -De acordo com as mais avançadas tecnologias televisivas, este evento desportivo foi integralmente transmitido, a nível mundial, através do sistema de Alta Definição (HDTV). Para o efeito, foram utilizadas 20 câmaras convenientemente preparadas; - Os meios e os níveis de segurança utilizados dentro e fora dos estádios foram sofisticados, tendo havido intercâmbios técnicos e humanos permanentes entre polícias, incluindo autoridades de diferentes países. Os resultados finais foram um êxito absoluto; -O futebol, genericamente, praticado poderá ser apelidado de pragmático e resultadista, mas foi quase sempre emotivo. Manuel Alegre definiu muito bem este Mundial ao dizer que este ocupou tudo, invadiu tudo – o tempo, o trabalho, o sono e o sonho. Ao contrário daquilo que os “profetas da desgraça” dizem e escrevem, este Mundial foi um bom exemplo de organização, de cultura cívica e desportiva e fundamentalmente proporcionou-nos espectáculos emocionantes aos mais diversos níveis. Em termos gerais foi um êxito competitivo e financeiro. Ao escrever isto não deixo também de pensar que seria importante a FIFA, num futuro próximo, começar a estudar a possibilidade de realizar este evento noutras alturas que não após a final dos Campeonatos Europeus, de forma a que algumas “vedetas” não se apresentem fisicamente em estado tão lastimável; - Não obstante as equipas europeias acabaram por dominar este Mundial. Nas meias-finais estiveram 4 equipas, todas elas pertencentes a países membros da UE os quais integram, com plenos direitos, a Zona Euro, estamos a referir-nos à Alemanha, França, Itália e Portugal - com a curiosidade acrescida de 3 delas serem latinas. Se a isto associarmos ainda o facto de a maioria dos jogadores pertencentes às selecções do Brasil e da Argentina jogarem regularmente nas principais Ligas Europeias, compreendemos a evolução e a importância crescente que o futebol tem vindo a assumir no velho continente; -As quatro selecções finalista pertencem a quatro países cujos PIB perfazem 4.865 mil milhões de €. A Alemanha (3º lugar) concorre com 40,2%, Itália (1º) 27,2%, França (2º) 29,1% e finalmente Portugal (4º) com 3,27%; -Dos 64 jogos disputados foram marcados 147 golos, o que deu uma média de 2,30 golos por jogo – valor razoável. O melhor marcador foi alemão, com 5 golos e de seu nome Klose; -A excelente participação da equipa do Gana – eleita a equipa sensação – fazendo jus ao virtuosismo, apanágio actual, do futebol africano; -A selecção Alemã composta por jogadores na sua maioria jovens, superiormente dirigidos por um grande treinador, igualmente jovem, de seu nome Klismann; - A selecção Portuguesa foi eleita a equipa mais empolgante, foi também aquela que mais remates à baliza efectuou (51); -A presença física do seleccionador Português Felipe Scolari, junto às quatro linhas, foi um sucesso pela motivação e estímulo constante transmitido aos jogadores. Estes viram nele, além de seu treinador, um amigo, um pai, uma pessoa carinhosa e castigadora; - O facto disciplinar mais grave foi a cabeçada de Zidane a Materazzi, ocorrida no jogo da final que opôs a França e a Itália. Aliás o jogador foi expulso e após este incidente a Itália sagrou-se campeã, atingindo o quarto título mundial. Curiosamente o indisciplinado Zidane veio mais tarde a ser eleito o melhor jogador da prova sendo-lhe atribuído o prémio Bola de Ouro/2006. Obviamente que, do ponto de vista disciplinar, este Mundial ficará marcado pela atitude irresponsável de um grande artista do futebol – muito ainda será dito e escrito sobre este assunto e será importante porque construtivo – mas foram atingidos resultados muito positivos na luta contra o racismo e a xenofobia. A campanha pelo fair play foi igualmente positiva. Por outro lado, as arbitragens embora não possam ser, globalmente, consideradas de muito boas, podem e devem ser classificadas de razoáveis. Facto importante, não foram determinantes nos resultados e obtiveram, regra geral, a colaboração dos jogadores. Ao contrário daquilo que por vezes se pretende fazer crer o futebol de alta competição tem evoluído e tem-no feito no sentido da inovação e das novas tecnologias, sobretudo utilizando e aplicando aquelas mais directamente ligadas à comunicação social falada, escrita e, sobretudo, televisiva. Tem-no também feito de forma globalizada e integrada de acordo com as exigências científicas, técnicas e financeiras de uma indústria cujo sucesso é fruto cada vez mais do investimento económico e financeiro programado atempadamente e de forma rigorosa. A componente aleatória do resultado é ainda elevada, mas este é cada vez mais controlado de acordo com os riscos associados e de forma programada. O êxito tem a ver directamente com o resultado positivo (basta o 1-0), e quanto mais vezes este é repetido, maiores são as emoções, maiores são os resultados finais. Como diz José Mourinho, “as grandes equipas são aquelas que raramente perdem, empatam pouco e ganham muitas vezes e normalmente por diferenças mínimas. Raramente ganham por grandes diferenças”. Este é o futebol evoluído de hoje que arrasta cada vez mais multidões organizadas e concomitantemente mais investimentos. É convicção de muitos que o futebol na actualidade, por diversas razões, se tornou imparável. Vem demonstrando que tem capacidade para se reinventar, renovar e surpreender. Que encontra sempre o seu caminho em diferentes ramificações, uma delas, num futuro próximo, será o fim do primado masculino o qual em termos de popularidade pode não ser eterno. Não foi por acaso que o presidente da FIFA (Joseph Blatter), afirmou recentemente que o futuro da modalidade passará também pelas mulheres. Nota final, cheguei ao fim da época desportiva 2005/2006. Com este “escrito” termino a mesma aqui neste espaço inteligente e proporcional de opinião que é o ALVALÁXIA. Por isso, gostaria de agradecer ao seu principal gestor e mentor Rui Gouveia, pela forma empenhada e competente como o geriu. E finalmente dizer que para a época 2006/2007 cá estarei como membro activo e com dose reforçada de sportinguismo. Pedro Vieira (pedro.vieira55@gmail.com) |
sexta-feira, julho 21, 2006
Notas finais - Mundial - Alemanha 2006
Publicada por Pedro Vieira à(s) 17:46
Etiquetas: Futebol Internacional, PV, Selecção
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