O Futebol Português teve uma evolução significativa desde os anos 80 até hoje. Esta evolução insere-se na dinâmica europeia e mundial deste desporto bem como da globalização da sociedade.
Começando por aqui posso desde já adiantar que progressivamente as trasmissões televisivas foram ganhando cada vez mais adeptose, ao invés, os estádios foram perdendo. Quem ainda consegue ser fiel ao seu clube prefere muitas vezes ficar no conforto do seu lar ou ir ao café da rua do que ir ao estádio. Mesmo com os estádios actuais. Exemplificando digo que hoje seria inpensável ter 120.000 adeptos no Estádio da Luz para ver um Clássico com os preços de bilhetes da 1985 actualizados à taxa de inflação. Isto mesmo com as condições dos novos recintos.
Quanto ao fenómeno televisivo é ainda necessário referir que as transmissões são em número muito superior ao de duas décadas atrás. Vemos as melhores ligas e todas as provas internacionais com a regularidade que queremos. Assim os jogadores fora de série são vulgares. Entram-nos pela casa adentro todos os dias. Sendo assim os antigos jogadores razoáveis e bons deixam de ter algum interesse.
Efectivamente ficava sempre na retina dos simpatizantes do desporto rei as fantásticas exibições das principais ligas estrangeiras - Inglesa, Alemã, Espanhola, Francesa e Italiana. Quer em competições europeias quer na Final da FA Cup sobresaiam sempre a qualidade técnica, a pujança física e resistência dos atletas destes países. Os adeptos querem mais jogos de qualidade. Surge assim um novo mercado televisivo em Portugal que passa de canais abertos e gratuitos para fechados e pagos surgindo assim um e depois dois canais específicos de desporto - a Sport TV. Oliveirinha
Os limites para jogadores estrangeiros foram desaparecendo e a Lei Bosman deu a machadada final ao não impor limites aos números de jogadores comunitários. As escolas nacionais (regionais ao nível europeu) perdem as suas características. O futebol tem as suas tácticas e modos de jogar que são comuns a todo o mundo. Temos um "esperanto" futebolístico. O mercado de trabalho de jogadores vai esvaziar as ligas mais fracas, de menor dimensão e menos endinheiradas. No caso português há a acrescentar o menor número de recrutamentos nacionais que agora se passa a fazer em escolas de formação específicas para o efeito. As equipas de menor qualidade passam a recorrer aos brasileiros "de segunda e refugo" para fechar os seus planteis.
O figurino das provas europeias alterou-se. Com alguma frequência irregular podemos ver cair vários colossos europeus aos pés de clubes desconhecidos no panorama futebolístico. Nesses anos, as finanças de clubes, que regularmente investiam em contratações para a conquista de títulos, eram bastante afectadas.
Para obviar esta situação e para harmonizar a qualidade dos clubes a Taça passou a Liga dos Campeões e a Tça UEFA progressivamente passou a ser uma 2ª Divisão Europeia. Os clubes de topo das ligas europeias passam a ir para a Liga dos Campeões mesmo que não ganhem os seus campeonatos. Os campeões dos países menores vão para as Pré-Eliminatórias das duas provas europeias. Temos hoje em dia duas divisões europeias intercomunicantes e que não se jogam totalmente em poule a duas mãos. Mas para lá caminhamos...
A dimensão dos países e dos fenómenos futebolísticos dentro destes afecta muito as receitas geradas. Comparando Portugal e Espanha hoje em dia há vários clubes espanhois que têm assistências médias superiores a 10 ou 20.000 espectadores. Em Portugal superior a 20.000 temos 3 e superior a 10.000 temos dois. Em termos de receitas de bilheteira é o que se pode esperar e em termos de merchandisng o mesmo. Com a agravante da globalização televisiva onde há mais estrelas futebolísticas e mais adeptos a tendência é existir ainda mais. Clubes de dimensão mundial como Manchester United já têm os seus sites em chinês e japonês e o que é um facto é que são clubes cujo número de fans aumentou significativamente na Ásia. O que é aborrecido é que a estrela deste clube é portuguesa e pior ainda foi formado em Alcochete...
Hoje em dia temos uma série de jogadores de qualidade europeia e mundial que são portugueses. Figo, Rui Costa e Cristiano Ronaldo são os expoentes máximos desta qualidade. São jogadores que já não resultam dos acasos do futebol de rua, hoje já quase inexistente como fonte de talentos. São, isso sim, frutos da formação pensada e definida por profissionais do futebol com formação académica. Formação esta que é obrigatória para os treinadores do futebol profissional. Formação de jogadores que teve em Carlos Queiroz o seu melhor exemplo, sendo este trabalhador no mais rico clube do mundo. Formação de jogadores, ainda, que teve e tem como exemplo e benchmarking os futebolistas de topo. Trabalho árduo, inteligência e persistência fizeram uma geração dita de ouro que hoje se renova com qualidade e vai sendo vertida para o Clube Portugal - a Selecção.
Escusado será dizer porque motivo não temos uma Liga de Qualidade equivalente à dos nossos futebolistas. A reduzida dimensão do País e o reduzido pelo em termos de imagem e de adeptos dos clubes portugueses reduzem o futebol português a uma Liga de passagem e/ou de formação e/ou ainda de reforma.
Veja-se o caso do nosso mal amado e ingrato Simão Sabrosa. Teve uma formação futebolística em Alvalade que lhe permitiu ser transferido para Barcelona aos 19 anos por 15 milhões de euros. Na cidade condal não vingou e regressou ao Portugal, mais precisamente ao Benfica. Aqui deu de novo nas vistas. Já foi sondado anteriormente e agora, ao transferir-se para o Atlético, vai potenciar todo o seu encaixe financeiro. Vai também para um clube que, com estabilidade, será um que tem uma dimensão mais adequada à sua capacidade futebolística.
Como exemplo de formação temos Figo e Rui Costa entre muitos outros. Um mais ingrato não regressou. Outro mais grato tenta ajudar como pode o seu clube. Ambos vingaram no estrangeiro. Uma palavra de especial apreço para Fernando Couto ainda no activo.
Como exemplo de passagem temos um Anderson que só cá parou um ano e rumou a Manchester um um Deco que precisou de várias épocas para ser notado a nível europeu e sair pela porta grande para Barcelona.
Porquê tão grande argumentação? Para vos lançar a questão fulcral. Como vai evoluir o futebol português no futuro?
- Vamos ter uma liga europeia?
- Vamos ter ligas regionais europeias? Onde os 3 grandes podem ser notados?
- Vamos ter um campeonato como já foi descrito?
- Vamos ter clubes cronicamente deficitários no que toca à actividade corrente (sem receitas extraordinárias de vendas de passes)?
- Vamos ter um campeonato ibérico (aí a Pátria amada!)?
De uma coisa bem podemos ter a certeza. Para termos clubes de topo europeu dificilmente será com o cenário actual, em que por muito amados que sejam os clubes (e são) as suas estrelas param por cá pouco tempo. Atente-se no exemplo do AC Milan. Foi campeão europeu com meia dúzia de jogadores que estão no clube há mais de cinco anos. Isto seria impensável em Portugal.
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