Quatro acontecimentos recentes ligados ao futebol profissional em Portugal fizeram transbordar o copo e apelaram à minha indignação.
Nada melhor, então, que materializar esse estado de espírito através deste escrito.
Vamos então aos quatro acontecimentos:
(1º) – Arbitragem tendenciosa de Olegário Benquerença, no recente Olhanense – Sporting, a qual teve como objectivo imediato prejudicar desportivamente e disciplinarmente a equipa leonina.
A crónica do jornal “A Bola” do dia seguinte, sobre isso é elucidativa e passo a citar … Olegário Benquerença prejudicou o Sporting. Dois foras-de jogo mal assinalados a Postiga (62 e 73), uma agressão de Carlos Fernandes a Postiga que não foi punida (49), um penalty de Fernando Alexandre aos 57 (mão num remate de Maniche) que ninguém viu. Sporting com razões de queixa …;
(2º) – A entrevista do presidente do Marítimo ao jornal “A Bola” (12/02/2011), em que este desafia o FC Porto e defende que o Ministério Público deve investigar eventuais irregularidades com transferências de jogadores;
(3º) - O impasse criado na Federação Portuguesa de Futebol com a não aprovação das alterações aos estatutos por força da aplicação da nova lei reguladora das Federações Desportivas.
O não acatamento da lei pode levar, a curto prazo, a que FPF perca o estatuto de utilidade pública e a ser considerada entidade não cumpridora da lei;
(4º) – A vida difícil do SCP, materializada em problemas graves de sustentabilidade económica e financeira, em défice permanente de governabilidade, que levou os órgãos sociais à demissão e que colocou o clube na rota de novas eleições.
Assim e na perspectiva de combater a crise que assolou a instituição SCP, cumpre encontrar as causas e se possível pensar nalgumas soluções exequíveis:
1. Causas da Crise do Sporting
1.1 – O Projecto Roquette – um modelo de gestão empresarial, inicialmente pensado e desenhado à medida por José Roquette para o Sporting veio, “à posteriori”, a revelar-se insuficiente e portador de enormes vicissitudes.
Convém ter também presente que hoje em dia os grandes clubes de futebol, sobretudo os europeus, são geridos de forma empresarial, estando os mesmos integrados numa indústria autónoma que se imaginou e se pretendeu rentável.
O “Core Business” é o futebol espectáculo, apenas este e tudo o que lhe diz respeito. A fabricação dos artistas (formação), o tratamento da sua imagem (marketing).
Tudo, no entanto, depende do resultado final e este para ser rentável tem que ser forçosamente positivo. Continua, portanto, a existir uma forte componente aleatória e concomitantemente de risco.
O tempo veio a revelar que os projectos com sucesso foram escassos.
Tem-se verificado também uma tendência para o abandono do ecletismos na sua vertente desportiva;
1.2 – As Minorias de Bloqueio – numa já célebre Assembleia-geral do Sporting convocada, especificamente em 2006, para o Pavilhão Atlântico em Lisboa, evento que teve como objectivo prioritário discutir e aprovar a proposta da direcção do clube referente à alienação de património não desportivo, teve como resultado o chumbo final da mesma e a demissão dos Órgãos Sociais do Clube. Embora a votação tenha sido maioritariamente favorável à proposta apresentada (64,54%), não foi suficiente para serem alcançados os 2/3 estatutariamente necessários – faltaram cerca de 2% dos votos.
Este chumbo foi fulminante para a tão desejada e necessária reestruturação financeira do Clube.
Aliás este chumbo revelou também a existência de uma Minoria de Bloqueio estatutariamente protegida mas, manifestamente, prejudicial aos interesses de uma instituição moderna;
1.3 – Outras causas – (a) a existência de uma enorme pressão externa sobre o clube, pressão essa, muitas vezes feita por pessoas com responsabilidades e experiência desportiva; (b) a existência de sportinguistas que aproveitam sempre os momentos maus do clube para deitarem achas para a fogueira; (c) a existência dos chamados “papagaios” que normalmente actuam de forma menos clara e sempre de dentro para fora; (d) um agravamento brutal das taxas de juro inerentes aos empréstimos contraídos junto da banca. Esta situação é relevante atendendo ao facto de o chamado “projecto Roquette” ter sido praticamente financiado por capitais alheios. O dinheiro que o clube tem gerado tem sido destinado, praticamente, para pagar juros e dívidas; (e) a existência de orçamentos para o futebol muito abaixo dos seus principais concorrentes; (f) a contratação de atletas que vieram a revelar-se, em percentagem significativa, pouco felizes.
2. Alternativas
2.1 – Eleger o ecletismo desportivo como a principal bandeira do Sporting, estando o mesmo assente nos associados e adeptos do SCP;
2.2 – Criar as condições necessárias para promover a afirmação dos atletas formados no Clube;
2.3 - Proceder-se às reformas profundas e não apenas ao saneamento financeiro da instituição, tornando o clube mais moderno e operacional – seguindo as linhas orientadoras definidas no Congresso de Santarém;
2.4 - Os associados e adeptos serão o principal património do clube, sendo em torno deles que os projectos desportivos se desenvolverão, respeitando o princípio de que estádios e pavilhões cheios serão a grande fonte de financiamento para a sustentabilidade das diversas modalidades;
2.5 – Promover e reforçar a participação do SCP nas instituições que gerem o desporto em Portugal;
2.6 - Promover e afirmar o Clube junto da Comunicação Social, criando redes de informação sustentadas nas tecnologias adequadas.
3. Um apelo sensato,
Dias Ferreira candidato oficial às próximas eleições publicou a seu tempo no jornal RECORD um excelente texto do qual me permiti extrair um excerto que deixo aqui para reflexão:
… A paixão, por vezes quase irracional, como tem vivido os nossos clubes até aos dias de hoje, está quase esgotado, por não se ter temperado em tempo oportuno com alguma razão. E enquanto ele se não esgota definitiva e irreversivelmente, há que ter a coragem de entre todos e cada um na sua casa, discutir qual o modelo de clube que quer e pode ter, sem tibiezas nem complexos, e tendo os olhos postos em exemplos onde o capital externo não matou a paixão interior….
Este pequeno excerto ilustra de forma concisa e clara as preocupações sentidas por um número crescente de adeptos de futebol e em particular daqueles que sentem os seus clubes do coração em dificuldades acrescidas. Em abono da verdade deveremos também dizer que o “mal” afecta a maioria dos clubes portugueses. É um “mal” que corrói lentamente e que anualmente produz as crises cíclicas, das quais destaco os ordenados em atraso dos protagonistas e o, sempre, crescente endividamento bancário.
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
Um desabafo
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